Rio de Janeiro – Origens esquecidas da crise (1)
Duas traumáticas decisões de grande extensão foram tomadas pelo poder central do Brasil que impactaram profundamente os cariocas e, também, a sociedade fluminense, ambas sem que houvesse consulta (e muito menos consentimento) dos cidadãos atingidos. A primeira delas em 21 de abril de 1960, dia em que o Rio deixou de ser a capital federal ¹. Logo em seguida, em curto espaço de tempo, menos que uma geração de intervalo (historicamente um espaço de tempo extremamente reduzido), em 15 de março de 1975 Guanabara e Rio de Janeiro se transformam em um só Estado ².
Este artigo é dedicado a analisar a primeira dessas decisões, provavelmente o cerne da crise hoje verificada no Estado do Rio de Janeiro, que por miopia histórica é atribuída exclusivamente aos impactos do preço do barril do petróleo no mercado mundial.
No primeiro momento, a Cidade do Rio de Janeiro, sede do Governo central desde a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, se viu subtraída do que era, até então, sua vocação natural: ser sede do poder político, econômico e social da Nação. Virou uma cidade de majestosos prédios vazios.
Diferente do que ocorreu em Bonn quando da decisão da reunificação da Alemanha. No histórico dia de 20 de junho de 1991, o Bundestag (Parlamento alemão) decidiu por estreita margem de apenas 18 votos de diferença, que Berlim voltasse a ser a capital, Bonn deixou de ter a condição de Capital Provisória da Alemanha Ocidental, status que manteve desde 1949.³
Bonn perdeu a acirrada disputa para Berlim. Entretanto, recebeu subsídios generosos, conservando ainda a sede de vários ministérios garantindo assim a manutenção de empregos públicos. De outra sorte, a prudência alemã fez om que a mudança tenha ocorrido em tempo lento e gradual de modo que Bonn pudesse se adaptar a uma nova conjuntura.
Por aqui, tudo foi diferente. A velocidade com que todos os Ministérios foram transferidos foi assombrosa. Restaram poucas “relíquias” dentre as “joias da coroa” transferidas açodadamente para a nova Capital, dentre elas as sedes da Petrobrás, da Eletrobrás e de Furnas.
Os pais de nossos jovens e as escolas e faculdades, até então, incutiam em suas cabeças que eles deveriam se preparar para ser aprovados em concursos públicos, fonte predominante de emprego e geração de renda na até então Capital Federal.
“A informação corrente entre as pessoas leva a crer que os funcionários públicos ou de estatais são pessoas protegias em suas carreias sendo promovidas por tempo, prestígio e, às vezes, por mérito” afirma Antenor Barros Leal em Construindo o Futuro – Novas Gerações na Trilha da Responsabilidade Social, ao analisar os aspectos que levam nossa juventude a ter reduzida vocação para o empreendedorismo.
Cinquenta e seis anos se passaram desde a transferência da Capital Federal para Brasília. Duas gerações se formaram, mas a falta de decisão correta tomada naquele tempo oportuno, no sentido de prover a sociedade carioca de meios adequados para a adaptação de sua cultura econômico-social, ecoam até os dias de hoje.
Como seriam os dias atuais se as decisões corretas tivessem sido tomadas na hora certa? Como seria o presente se medidas graduais, se indenizações compensatórias tivessem sido praticadas pelo governo central em favor do equilíbrio da conjuntura da Federação? Estaria a crise que impiedosamente atinge os mais vulneráveis (como os funcionários públicos e aposentados do Governo estadual) nas mesmas dimensões que hoje é alardeada? Certamente que as respostas são uma grande e retumbante negativa. O cenário seria mais favorável para todos os brasileiros, muito além dos benefícios trazidos apenas e tão somente para um grupamento de 3,3 milhões de cariocas, população da então Mui Heróica e Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.4
Essa origem teve uma segunda agravante num espaço de tempo de apenas 15 anos – a “fusão” dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Mas esse outro fenômeno merece, por sua extensão e profundidade, ser tratado num artigo próprio. E assim o será.
A Cidade do Rio de Janeiro, até então cantada aos setes ventos como a Cidade Maravilhosa, manteve o encantamento de suas belezas naturais, mas se viu abandonada à própria sorte, perdendo abruptamente o glamour da agitação da vida diária, do vai-e-vem de personalidades, tornando-se uma Cidade sombria, como que inspirada por Pirandello em sua obra “Seis Personagens à Procura de Um Autor”.
³ http://www.dw.com/pt/o-dia-em-que-bonn-foi-derrotada-por-berlim/a-19344019 visitado em 10/09/16
4 https://www.ecodebate.com.br/2015/04/29/decrescimento-da-populacao-da-cidade-do-rio-de-janeiro-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/ visitado em 10/09/16
Ilustração: foto de Lucarelli de 1960, publicada em http://riomaisvintage.tumblr.com/ visitado em 10/09/16
Excelente artigo, me deixou instigada a procurar o próximo artigo.
Infelizmente a “nossa cultura” é de e estudar para passar em um concurso público, nos deixando de explorar o nosso lado empreendedor, e os que tentam poucos obtêm sucesso.
Agradeço sua gentil mensagem. No segundo artigo será abordado o impacto subsequente relativo à “fusão” (ou incorporação???) dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, episódio histórico que tem grande relevância no quadro sócio-econômico atual.
Prezado Joper, excelente artigo!
Pude conhecer um pouco da história do Rio que não conhecia até então.
Abraço!
Amigo Álvaro Teixeira, a narrativa prossegue com a capítulo da “fusão” dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Acompanhe e prestigie com seus comentários, meu caro.