Aposentado, Retirado ou Reposicionado?
Justo Veríssimo dizia: “Palavras são palavras, nada mais que palavras”. Genial! Chico Anisio imortalizou o político descomprometido com seus discursos.
Na verdade, palavras têm significado e peso específico, costumo afirmar. Parafraseando, eu digo: palavras são palavras e significados, MUITO MAIS QUE PALAVRAS. Especialmente no nosso rico idioma. Mais especialmente ainda em nossa linguagem no Brasil.
Hoje é o Dia Nacional do Aposentado. Em 24 de janeiro de 1923 o Presidente Arthur Bernardes, pelo Decreto 4.682 (1) , “Crêa, em cada uma das empresas de estradas de ferro existentes no país, uma Caixa de Aposentadoria e Pensões para os respectivos empregados (sic).” Iniciativa do Deputado Federal por Pindamonhangaba Eloi Chaves. Eram os primórdios da previdência social no Brasil.
Outros tempos …. “Entre 1901 e 2000, a população brasileira saltou de 17,4 para 169,6 milhões de pessoas, e 10% desse crescimento se deve aos imigrantes e a expectativa de vida de um homem brasileiro subia dos 33,4 anos em 1910 para os 64,8 anos em 2000” (2). Hoje somos mais de 205 milhões de brasileiros e a expectativa de vida sobe para 74,9 anos.
Nas primeiras décadas do Século passado seria razoável imaginar que após cumprirem mais de 30 anos de trabalho, as pessoas ficassem alojadas em seus aposentos. Estariam, então, literalmente aposentadas.
Em Portugal, e em países de língua inglesa, sempre se adotou palavra mais adequada para os tempos modernos. Lá se diz “retirado”. Sim! Retirado do mercado de trabalho.
Hoje, proponho que se adote outro termo mais representativo aos dias que vivemos e que se anunciam para o futuro próximo: REPOSICIONADO!
Aposentado dá a falsa de ideia do ser recluso na expectativa de ver os dias passarem. Longe desse tipo.
Retirado lembra os sonhos do laser, das viagens, de usufruto do período pós laboral. Cada vez mais distante esse estereótipo.
Reposicionado traduz a nova atitude daqueles que precisam reinventar suas trajetórias para enfrentar os desafios da sobrevivência futura.
Ao escrever esta reflexão assisto a entrevista concedida em 2014 pelo poeta Ferreira Goulart para Roberto D’ Ávila. No vigor de seus 85 anos de vida (esplêndida vida!) o ilustre maranhense é um exemplo daquele incansável ser que se refaz a cada momento. Escritor, poeta, crítico de arte, tradutor, memorialista, ensaísta, gestor público … fez de tudo … e ainda fará muito mais.
Melhor que ninguém, Ferreira traça sua visão de vida no poema para o Trenzinho Caipira de Villa Lobos:
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra, vai pela serra, vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar, no ar, no ar… (…)
Ao viver a experiência da transição laboral, sinto-me credenciado a dizer a meus colegas de carreira futura, de hoje e do amanhã: FELIZ DIA DO REPOSICIONADO! Correndo entre as estrelas a voar, no ar, no ar, no ar ,,,
(1) http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/23/1923/4682.htm
(2) http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/29092003estatisticasecxxhtml.shtm
Ilustração colhida em http://tribunadoceara.uol.com.br/empregos/carreira/com-desemprego-em-alta-veja-dicas-para-se-reposicionar-no-mercado-de-trabalho/attachment/mundanca-carreira/