Um grande Mestre
Um grande Mestre, economista de renome, Professor da Fundação Getúlio Vargas, homem de ilibada reputação, amigo de incontáveis qualidades, Genival de Almeida Santos conduziu sua vida com doçura e sabedoria.
Esbanjava qualidades. Cada gesto, cada palavra, cada atitude, cada olhar, cada sorriso, era uma lição.
Tive o privilégio de conviver com essa admirável figura humana e conquistei sua amizade, fruto do companheirismo que nos uniu em Rotary.
Um homem que tinha admiradores e amigos por todo o canto por onde passava. Nenhum desafeto. Um semeador do amor e da fraternidade. Gostava de estar entre familiares, amigos, ex alunos e companheiros em Rotary, organização na qual foi Diretor Internacional.
Certa feita o inevitável ciclo da vida lhe impôs as inexoráveis limitações. E antes que seu declínio físico impusesse a seus amigos sentimentos outros diferentes daquele que eles – e ele – mereciam, Genival pediu que o deixassem se isolar com sua esposa. Foi delicado como em tudo que fez na vida. Apenas se tornou recluso até seus últimos dias. Só guardamos boas lembranças desse grande homem, como sua trajetória fez por merecer.
Dentre tantas lições que devo ao grande Mestre, esta talvez tenha sido a maior. Eu a chamava de Saber Sair. Sim, Genival soube nos mostrar como Saber Sair é fruto de muito amadurecimento existencial. Naquela época, eu imaginava do quanto ele abdicou ao tomar tal decisão.
Passadas mais de uma década, decido escrever esta homenagem a meu Mestre Genival. E sou movido por uma razão muito especial. Hoje, dia 29 de dezembro de 2015, após completar há 9 dias meus 49 anos de serviços à Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, tomei a decisão de entregar à empresa o documento pelo qual saio da cena profissional naquela organização.
Muito devo à essa longa experiência. Os que convivem comigo bem o sabem. Nessas décadas, a sigla da empresa se incorporou a meu nome – Joper Padrão da CEDAE. E essa alcunha me enchia de orgulho, sem dúvida. Pensava eu me aposentar após completar o ciclo de 5 décadas, mas o destino – caprichoso – decidiu que eu abreviasse esse plano antecipando a decisão por um ano.
Ao acordar hoje pela manhã e pensar que o prazo fixado pela empresa para que profissionais sexagenários tomassem as suas decisões do afastamento espontâneo estava por findar no segundo dia útil do novo ano, lembrei-me do Mestre Genival. De repente, um sentimento de paz absoluta tomou posse de minha emoção. Daí em diante foi fácil.
Sempre tive o orgulho de demonstrar gratidão àqueles com os quais aprendi ao conviver. A muitos devo dizer “Obrigado”. A Genival, neste momento, rendo minhas homenagens. Graças ao Mestre Genival procurei saber sair de cena. Ao auxiliar administrativo do protocolo, a quem me indicaram que eu deveria me dirigir, entreguei o documento com humildade. A meus Familiares, tenho a consciência de ter honrado o nome Padrão, e assim como entrei em 20 de dezembro de 1966, de cabeça erguida, voltei meus passos para a rua neste dia 29 de dezembro de 2015. A Arnalda Rabelo sou grato por me emprestar, por intermédio de seus versos, a serenidade que trago comigo neste momento: “As vezes é preciso silenciar, sair de cena e esperar que a sabedoria do tempo termine o espetáculo.”
Joper Padrão