Um Conto de Uma Manhã Chuvosa
Resido na Tijuca, um bairro tradicional do Rio de Janeiro. Sou um privilegiado. Moro em rua arborizada, pacata, próximo a uma reserva da qual se tem acesso à Floresta da Tijuca. Os prédios vizinhos são habitados por famílias de classe média-alta. Gente de bom nível social.
Neste Domingo (4 de dezembro) ao sair para as compras, percebi muito lixo pela rua. Uma cena pouco comum. Na direção do edifício defronte a minha residência o volume acumulado era impressionante.
Carro na pista vi um porteiro a pequena distância varrendo o asfalto. Parei e ao cumprimenta-lo, indaguei:
“Bom dia! Choveu muito na noite passada?”.
Ele, prontamente: “Bom dia! Sim senhor. Um temporal.”
“Parabéns pelo senhor estar tirando o lixo acumulado na porta de seu prédio”, eu lhe disse.
E ele: “Minha obrigação. Encheu a rua por causa do lixo que desceu da Formiga (comunidade próxima). Se chover de novo, deve encher menos…”
A cena me acompanhou enquanto cumpria a missão a que me propus. Regressei. O lixo amontoado no prédio em frente permanecia lá, intacto. Muito lixo. Garrafas Pets em quantidade, sacos plásticos, de tudo um pouco.
Estacionei e inquieto, pedi ao porteiro de minha residência que me cedesse 2 sacos plásticos de 60 litros, uma pá e uma vassoura. Sem luvas ou ferramentas adequadas parti para resolver o problema que me inquietava. Em atitude solitária, enchi o primeiro saco. Um considerável volume de detritos diversos ainda obstruía a boca de lobo. Segui a tarefa e enchi o segundo saco, deixando livre a grelha junto ao asfalto para escoar a água caso um novo temporal que se anuncia pelas nuvens escuras no céu venha a acontecer.
Achei estranho ser esse o único prédio ao alcance de meu olhar em que o lixo havida sido deixado no asfalto. Nele, nenhuma pessoa havia se prontificado a fazer a tarefa; nem morador, nem funcionário da faxina. Enquanto eu seguia o meu propósito, carros de luxo entravam na garagem do tal prédio. Os moradores que os dirigiam se mostravam indiferentes. Outros residentes, passavam por mim e entravam pelo portão de pedestres sem ao menos me dirigir um cumprimento amável. Um visitante se aproximou e ao apertar o botão de comunicação com a portaria, foi respondido por uma voz responde pelo interfone, o que representava um empregado do condomínio por trás dos vidros escuros da guarita. Eu me senti transparente.
Agachado, com a mão na massa (literalmente), refletia sobre a indiferença comunitária desses vizinhos. Poderiam estar pensando: “Esse trabalho é da COMLURB (a companhia de limpeza urbana da Cidade); “O que eu tenho a ver com isso?”; Culpa do Governo que deixou de cuidar do lixo”. Coisas assim. Jamais saberei, até porque jamais lhes indagarei a respeito.
O que fiz? Fiz a minha parte! Sem pretender nada, muito menos ser exemplo para quem quer que seja, tirei o lixo que os empertigados que passaram por mim abdicaram de remover.
Ao entrar de volta no prédio em que resido agradeci ao porteiro por ter cedido os sacos e as toscas ferramentas. Aproveitei a oportunidade para um “treinamento” comentando com ele sobre a indiferença daquelas pessoas, e afirmando que certamente em nosso prédio ele e seus colaboradores na manutenção fariam sempre a sua parte, limpando a porta de nossa moradia.
Tudo isso me fez recordar uma diálogo com um querido amigo, descendente de família inglesa que ao imigrar para o Brasil fundou uma grande fazenda para produzir café no interior de São Paulo. Contou-me ele, um dia, a respeito da fleuma britânica de sua avó. Geraldo Spears da Rocha Pombo (esse era o seu nome) disse que certo dia presenciou sua avó com amigas inglesas tomando o chá das cinco quando o capataz entrou correndo pela sala e, nervoso, a interrompeu dizendo: “Senhora, Senhora, o grande galpão está em chamas …. O que a senhora vai fazer?”. E ela, sem perder a concentração na agradável conversa com as amigas disse com seu sotaque: “Nada. Eu não ‘ser‘ bombeira!”.
É, talvez se eu indagasse a essas pessoas indiferentes que residem nas proximidades: “Senhores, a rua está repleta de lixo … O que pretendem fazer?” elas me responderiam: “Nada. Eu não ‘ser’ gari!”
Vida que segue. Como a metáfora do colibri apagando o incêndio na floresta com as gotas d´água em seu bico, eu fiz a minha parte. E como Fernando Pessoa completa, o por-fazer é só com Deus.
I was suggested this blog by my cousin. I¡¯m not sure whether this post is written by him as no one else know such detailed about my trouble. You are amazing! Thanks!
Wow! After all I got a web site from where I be able to truly
get useful information concerning my study and knowledge.